Preparem-se que esta é uma caminhada para não esquecer! A quinta etapa do trilho dos pescadores é provavelmente a mais bonita das 13 que constituem a rota dos pescadores. Através de arribas e dunas cobertas de vegetação leva-nos a várias praias incríveis, passando pelo porto de pesca natural de Azenha do Mar, e pela majestosa ponta em Branca, uma das mais impressionantes vistas em toda a região. Para quem só pode fazer um dia na rota vicentina, esta é a etapa que sugerimos.
Com 18.5 km, a etapa 5 do trilho dos pescadores leva-nos desde a Zambujeira do Mar até Odeceixe, ao longo de 7 a 8 horas. É um percurso bastante duro, e várias descidas e subidas inclinadas como podem ver no gráfico de altimetria. Algumas destas descidas são ligeiramente técnicas, mas não precisa de se preocupar pois não é nada de muito complicado. Tem também alguns km em areia, mas ao contrário da etapa 2 e 3 nunca são secções muito longas.
Neste artigo vamos-nos focar nesta etapa e além de descrever todo o percurso e mostrar de perto os maiores destaques desta caminhada, vamos explicar também toda a logística, o que levar, como ir, quando ir, onde comer, etc.
Se estiver a planear fazer vários dias, sugerimos que leia também o nosso artigo geral sobre o trilho dos pescadores. Esta Grande Rota liga São Torpes a Lagos, ao longo de 13 etapas num total de cerca de 230km, praticamente sempre à beira-mar. Veja aqui mais informação sobre o trilho dos pescadores.

Trilho dos pescadores – Zambujeira a Odeceixe – informação geral
- Nome: Trilho dos Pescadores – etapa 5
- Inicio: Zambujeira do Mar
- Fim: Odeceixe
- Distância: 18.5km
- Tempo necessário: 7 horas
- Dificuldade: moderada
- Máx/min altitude: 80-0metros
- Ganho de altitude: 300 metros
- Tipo: Linear
- Sinalização (1-5) – 5, excelentemente sinalizado em ambas as direcções
- Destaques: Zambujeira do Mar, Praia do Carvalhal, Praia da Amália, Azenha do Mar, Ponta em Branco, Praia de Odeceixe,
- Pode fazer download do panfleto aqui

Nossa experiência no trilho
Este trilho começa na Zambujeira do Mar, mas aconselhamos que visite a Zambujeira no dia anterior, pois vai ser uma caminhada bem longa e com imensos pontos de interesse. Assim, deixamos em baixo também algumas dicas sobre a Zambujeira, onde comer e onde ficar lá.
No total temos pela frente 18.5 km que fizemos em cerca de 7h30, das quais apenas 5h30 foram de caminhada, o restante foram paragens para descansar, comer, e tirar fotos, muitas fotos. Este é um dia de sobe e desce (curtos mas inclinados), com algumas zonas técnicas, e vistas fantásticas.
A caminhada inicia-se na Zambujeira, e a primeira coisa a fazer é descer até ao nível da praia, atravessar a pequena ribeira que lá desagua e voltar a subir. É a primeira de muitas descidas e subidas das escarpas à beira-mar. Continuamos no percurso e poucos minutos depois estamos logo na primeira grande praia desta etapa (segunda se contarmos com a praia da Zambujeira do mar), a praia dos Alteirinhos.

Depois continuamos ao longo da linha do mar, durante cerca de 3km. Ao longo do caminho consegue-se ver as impressionantes rochas negras, dobradas pela força infinita da terra. Estas rochas seriam originalmente planas, e horizontais, estando agora algumas verticais e outras dobradas como se fossem papel.
Eventualmente chegamos a nova praia, a praia do carvalhal, e como sempre temos de descer ao nível da praia para atravessar para o outro lado. A praia do carvalhal tem um areal impressionante, e bem protegido pelas falésias enormes de ambos os lados. Seria o ponto alto de muitos outros trilhos, mas o que temos hoje pela frente é deslumbrante.

Ao voltar a subir a falésia do lado sul da praia dos carvalhos vai dar de caras um ponto de interesse no mínimo surpreendente. É o que costumamos chamar “o safari”. Aqui existe uma quinta com animais muito pouco alentejanos… quando lá passamos vimos zebras, avestruzes, búfalos e veados. É um pouco estranho dado que estamos em pleno parque natural, mas acaba por ser um landmark engraçado. Não se preocupe, não tem de sair do trilho para vê-lo, na realidade vai ter de caminhar ao longo da vedação durante algumas centenas de metros.
Depois do “safari”, o trilho torna-se ainda mais bonito, com o caminho a entrar por bosques à beira-mar, passando por algumas arribas, cursos de água e zonas bem estreitas. Como se a beleza natural da costa alentejana não chegasse, temos também um sensação de aventura, estando a desbravar locais muito pouco desenvolvidos. Aconselhamos alguma atenção para não tropeçar nos locais errados.

Estes são 4 km muito cénicos e por isso passam rapidamente. Após esta área chegamos à Herdade Amália. Aqui primeiro temos de contornar completamente a propriedade, passando em frente à entrada, e só depois descemos em direcção à praia.
A Herdade Amália pertence à fundação Amália Rodrigues, e era uma das propriedades favoritas da diva Portuguesa. Actualmente é possível alugar a mesma, pois funciona como Alojamento Local. Obviamente não é barato, mas é com certeza um local único. Se tem curiosidade ou quer marcar veja fotos, preços e mais informação aqui!
A Herdade Amália tem acesso directo à praia, mas o trilho também nos leva lá. Nesta parte do trilho a floresta adensa-se, a vegetação torna-se luxuriante. Este é um dos pontos mais curiosos do trilho, é este acesso à praia quase à Indiana Jones onde temos que nos baixar para atravessar o túnel formado pela vegetação. Mas as surpresas não acabam aqui, a praia além de deslumbrante, com areia fina e água cristalina e tem também uma bonita cascata, onde a água corre do cima da arriba directamente para a areia. É sem dúvida um lugar único, um segredo (que já não é segredo) maravilhoso, escondido na costa do sudeste alentejano.

Depois da praia da Amália, o trilho continua pelas arribas e escarpas à beira-mar, mas o terreno vai-se se tornando cada vez mais arenoso, tornando a caminhada um pouco mais dura, mas nesta fase areia não é muito solta. Por outro lado, continuamos com as constantes subidas e descidas íngremes.
São mais uns 3 km até chegar a Azenhas do Mar. Toda esta área entre a praia do Carvalhal e Azenhas do Mar é possivelmente a mais cénica de todo o trilho dos pescadores. Uma afirmação muito questionável, nós sabemos, mas aqui a beleza natural é arrebatadora.

Uma vez chegados à Azenha do Mar, o cansaço já começa a pesar, e é por isso a altura ideal para descansar. Aconselhamos vivamente que tenta apontar para chegar aqui por volta do meio dia, pois o restaurante A Azenha do Mar é o lugar que procura para um belo e refastelante almoço. O arroz de tamboril e camarão foi de chorar por mais…
Já refastelados e descansados temos de voltar à labuta pois temos ainda alguns km pela frente há ainda um ponto alto (altíssimo) a visitar. Infelizmente, os próximos 2 km são também bem durinhos, pois são feitos em areia, que rapidamente se torna solta. Ao fim destes 2 km, chegamos à Ponta em Branco. Uma rocha branca, no meio de dunas e rochas vermelhas, laranjas e amarelas.
A Ponta em Branco funciona também como um miradouro para a praia de Odeceixe e a foz da ribeira de Seixe. Daqui temos uma das vistas mais icónicas do Parque Natural do Sudeste Alentejano e Costa Vicentina. Este é a última grande atracção do trilho, e valia a pena toda a caminhada só para a ver.
Agora as más noticias… Depois da Ponta em Branco, o trilho tem muito poucos pontos de interesse, temos apenas de continuar a seguir as indicações, até descer a colina em direcção à margem da ribeira, e depois caminhar ao longo da estrada até à Vila de Odeceixe. São cerca de 5 km muito pouco apelativos, sobretudo depois de tudo o que vimos num dia apenas. Dica: Se não quiser fazer esta parte a pé, pode simplesmente chamar um táxi que o leve até à vila. Não vai perder nada.

Como ir à praia de Odeceixe?
A praia de Odeceixe fica na margem sul da Ribeira de Seixe, e o trilho passa pela margem norte. Para ir à praia, supostamente temos de ir todo o caminho até Odeceixe, e depois ir pelo outro lado até à Praia. Dado que já se vem com longos km nas pernas, não é muito apelativo. Tal como referimos, pode sempre pedir um táxi para a praia e depois voltar para a vila a pé.
Pode existir porém outra uma opção. Se a maré estiver muito baixa, e a ribeira estiver com pouca água, é possível atravessar a ribeira a pé directamente para a praia. Notem que nós não fizemos isto pois não queriamos arriscar molhar as mochilas, mas vimos pessoas a fazê-lo quando estávamos na Ponta em Branco. Foi-nos também dito para ter bastante atenção pois por vezes as correntes das marés são muito fortes. Avaliem correctamente o risco, se estiverem a equacionar fazê-lo.
Sobre a Zambujeira do Mar
A lendária Zambujeira do Mar é uma das mais conhecidas vilas costeiras do Alentejo, e até de Portugal. É um local onde o natural das praias e arribas se une com as construções humanas com harmonia pouco usual. É assim um óptimo destino em si mesmo mas também excelente destino final para este trilho.
Caso esteja a fazer várias etapas do trilho dos pescadores, é também um bom lugar para tirar um dia de descanso e usufruir das belas paisagens e praias das redondezas. Como vila-resort que é, existem imensos restaurantes, cafés e opções de alojamento.
Existem também diversos mini mercados e cafés que abrem bem cedo pelo que não terá problema em tomar o pequeno-almoço cedo e comprar mantimentos para os dias seguintes.

Onde ficar na Zambujeira do Mar
Como seria de esperar a Zambujeira tem imensas opções de alojamento, sobretudo hostels e alojamentos locais. Para quem está a fazer o trilho dos pescadores, o ideal é ficar bem no centro para não ter de adicionar ainda mais caminho ao trilho.
Nós ficamos no Nature Hostel e é uma boa opção pois é bastante confortável, temos acesso à cozinha e frigorífico e fica mesmo no centro da Zambujeira, perto da praia e do trilho. Veja mais informação clicando aqui.
Onde comer na Zambujeira do Mar
Não faltam lugares onde comer nesta pequena vila, desde cafés e snack-bares até restaurantes. Se quiser uma refeição com mais sustância, o lugar a ir é sem dúvidas o Costa Alentejana, pois é o melhor e mais conhecido restaurante da vila. Por outro lado, se quiser tomar uma bebida e comer algo leve, e ver um por do sol maravilhoso o Restaurante Rita, fica em frente ao mar e tem vistas deslumbrantes.

Sobre Odeceixe
Odeceixe é uma pequena e bonita vila na fronteira do Algarve com o Alentejo. Situada na margem sul do Ribeira de Seixe, e espalhada pela encosta acima. Um dos principais pontos de interesse é o seu moinho, que ainda funciona.
Fica ainda a 4km da praia (praia de Odeceixe) pelo que não é o destino ideal para quem procura praia. Zambujeira, e Milfontes serão melhores, por exemplo. No entanto, a praia de Odeceixe é uma das mais bonitas da região, como referimos em cima.

Onde ficar em Odeceixe?
Odeceixe tem alguns alojamentos locais e hostels, pelo que não será complicado arranjar onde ficar. Na nossa estadia em Odeceixe ficamos na “Residência do Parque” que fica mesmo no centro da vila, e por isso perto de tudo. O ideal pois esta etapa é bem cansativa. É um alojamento sem grandes luxos, mas suficientemente confortável, e onde se faz auto-check in, e acaba-se por não ter contacto com os hosts. Veja mais informação aqui.
Onde comer em Odeceixe?
Odeceixe tem alguns cafés, snack-bares, mini mercados onde se pode comprar comida e bebidas facilmente. Existem também diversos restaurantes, alguns dos quais com excelentes explanadas para se estar e relaxar. Um dos melhores restaurantes de Odeceixe é a Taberna do Gabão. A comida é realmente excelente, e a preços convidativos.

Melhor altura do ano para fazer o trilho dos pescadores
A melhor altura do ano para caminhar o trilho dos pescadores é a Primavera, nomeadamente em Abril / Maio. Alternativamente, o final do Verão e inicio de Outono será também excelente, sobretudo porque o mar estará com temperaturas bem mais agradáveis e esta etapa tem imensas praias convidativas.
No entanto, entre a Primavera e o Outono, a nossa preferência vai para a Primavera sobretudo porque é quando a vegetação está mais bonita, com flores selvagens por todo o lado. Em ambos os períodos os dias serão longos, e com temperaturas mais agradáveis para longa caminhadas.
No Verão temos o problema do calor, e é realmente um problema. Notem que quase toda a caminhada é feita ao sol, sem sombras ao longo do percurso nem grandes hipóteses de fugir do sol pois a vegetação é sobretudo rasteira. Por outro lado, temos a vantagem da água do mar estar também mais quente.
Durante o Inverno, o frio, a chuva e o vento podem tornar o trilho bem duro e menos agradável. No entanto, nunca o fizemos nesta altura.

Quem pode fazer o trilho?
Este é um trilho para pessoas com alguma resistência física, habituadas a caminhadas e sem qualquer problema de mobilidade. A idade não deverá ser um factor, mas sim a capacidade física. Desaconselhamos que faça com crianças pequenas, pois poderá ser um pouco, mas adolescentes e talvez pré-adolescentes habituados a fazer exercício consigam fazer esta etapa.
Notar que por vezes o percurso é feito junto a arribas e desfiladeiros pelo que pessoas com medo de alturas ou vertigens poderão ter problemas em certas partes.
O que levar?
Este trilho é uma das etapas de um trilho maior, o trilho dos pescadores. É importante diferenciar se vai fazer apenas esta etapa ou vários dias. A regra geral é nunca fazer caminhadas com mais de 10% do nosso peso, mas se estiver a fazer um percurso de vários dias, temos de ter especial atenção ao que levar pois quanto menos peso melhor.
Caso decida fazer vários dias aconselhamos que veja este artigo sobre o trilho dos pescadores. Se vai fazer apenas esta etapa entre Porto Covo e Vila Nova de Milfontes sugerimos que leve:
- Muita água (no mínimo 2l por pessoa) – leve sempre água para todo o dia pois nunca se saber se poderá alguma algum imprevisto.
- Snacks para se alimentar durante o dia. Nesta etapa existem 2 boas oportunidades para lanchar e almoçar, mas leve sempre alguma coisa para comer.
- Calçado de caminhada confortável – Faça a caminhada com calçado de caminhar ou correr. Nós usamos sapatilhas de corrida, mas há quem sugira usar calçado de caminhada. Sapatilhas têm a desvantagem de precisar de tirar a areia regularmente, mas a vantagem de ser bem mais frescas; Seja como for, não use os chinelos para fazer as caminhadas, é muito tempo e vai tornar-se desconfortável.
- roupa leve e confortável;
- Não esquecer de levar pelo menos uma camisola mais quente ou hoodie pois de manhãzinha pode fazer bem mais frio do que espera, nomeadamente fora do Verão.
- Roupa de banho, óculos de sol, chapéu e protector solar, por razões óbvias
- Câmera e telemóvel, pois existem muitas oportunidades para tirar belas fotos. Telemóvel também para ser usado como GPS.
- Mochila para levar tudo isto;
Como sempre, por favor não faça lixo. Traga tudo o que levar consigo.
Para quem vai fazer vários dias é importante notar que existem empresas de transferes que levam as malas para o destino. Assim se quiser levar ainda menos peso, esta pode ser uma boa hipótese. Veja aqui.

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