Como ver as gravuras rupestres de Foz Côa

Foz Côa é uma pequena vila no interior de Portugal e tal como o nome indica fica na foz do rio Côa. Esta era mais uma pequena vila perdida do interior, mas na década de 90 tudo mudou! Além de todo o cenário incrível (que ainda lá está), apareceu uma atracção turística de nível mundial, o parque arqueológico do vale do Côa. Neste artigo vamos explicar como visitar as famosas gravuras rupestres de Foz Côa e tudo o que precisa de saber sobre elas!

O que são as gravuras rupestres de Foz Côa?

No vale do Côa está um incrível sítio arqueológico de arte paleolítica com centenas de painéis e milhares de figuras que foram lá gravadas ao longo de milénios.

Estas gravuras retratam sobretudo cavalos e bovinos mas também alguns outros animais (como cabras e peixes), humanos, e até figuras abstratas, e datam entre 22 000 a 10 000 antes de cristo. Tipicamente foram feitas em rochas de xisto verticais, viradas para este e com tamanhos muito variáveis, entre 15 e 180 cm. Foram utilizadas diversas técnicas para as efectuar como a picotagem, abrasão e a percussão, sendo por diversas vezes utilizadas várias técnicas na mesma rocha. 

Este autêntico museu ao ar livre de Foz Côa espalhado por cerca de 17 km ao longo do vale do Côa, mas apenas 3 lugares estão abertos ao público. São eles a Canada do Inferno, Ribeira de Piscos, e Panascosa. É considerado o maior e mais importante sítio de arte paleolítica ao ar livre do mundo e um lugar chave para se perceber o início da civilização e época paleolítica. 

Gravuras rupestres de Foz Coa
Gravuras rupestres de Foz Coa

Temos de chamar a atenção que a arte rupestre de Foz Côa é impressionante pela sua raridade, idade, dimensão e até variedade mas não é uma atracção turística espectacular. Uma pessoa fica impressionada pela idade das imagens e por tudo o aquilo que passaram sem serem destruídas, mas não pela genialidade dos desenhos. Além de que muitos deles são até difíceis de distinguir se não tivéssemos um guia connosco. 

A barragem e a descoberta das gravuras

A descoberta das gravuras é uma das histórias mais memoráveis e marcantes da década de 90 em Portugal. Quem não se lembra da música “as gravuras não sabem nada?”

A verdade é que as gravuras já eram conhecidas dos pastores e dos moleiros da região, e até desenhavam também algumas figuras juntos destas. Existe também evidência de um artigo de jornal dos anos 30 em que são referidas as gravuras do Côa. Ainda assim, a descoberta oficial ocorreu apenas na década de 90 durante uma prospecção arqueológica obrigatória aquando da construção da famosa barragem da foz do Côa.

A construção da barragem e consequente reserva teria imergido e destruído os desenhos nas rochas. Assim, os arqueólogos que descobriram as gravuras começaram um movimento para as salvar, enquanto que a EDP, empresa responsável pela construção da barragem pressionava para continuar as obras.

Isto resultou em meses de noticias, rumores, lobbies de ambos os lados, e uma autêntica batalha entre as pessoas que queriam a barragem e as que queriam salvar as gravuras. No fim, e após uma forte pressão internacional, o projecto da barragem foi parado e os arqueólogos continuaram a investigar e a descobrir cada vez mais gravuras.

Manifestações contra a barragem

Em 1998 a UNESCO declarou o vale do Côa património mundial, o que ajudou a consolidar o seu status e a protegê-las de futuras ameaças. Este processo de atribuição de património mundial é considerado a mais rápida declaração alguma vez feita pela UNESCO, exactamente pela urgência em proteger tão importante local. De acordo com a UNESCO:

“A arte do paleolítico superior do vale do Côa é uma ilustração excepcional do repentino desenvolvimento do nosso génio criativo durante o amanhecer do desenvolvimento cultural humano”

“A arte rupestre do vale do Côa demonstra de uma forma excepcional a vida social, económica e espiritual dos nossos a antepassados pré históricos.”

Todo este processo influenciou muito a forma como Portugal vê e gere o seu património e a sua cultura.

É possível visitar as gravuras sem guias?

Não! Ninguém está autorizado a visitar as gravuras por si mesmo. Precisamos de ir numa visita guiada, com um guia autorizados. Pode ser um guia oficial do museu do Côa, ou um privado (mas devidamente autorizado). Curiosamente, nas nossas visitas às gravuras tentamos sempre marcar o tour junto do Museu do Côa, mas acabamos por usar um guia privado (aconselhado pelo próprio museu) pois as oficiais estavam cheias.

Então, como visitar as gravuras de Foz Coa?

Tal como dissemos em cima, vai precisar de ir num tour. Existem seguranças junto às gravuras, e só poderá entrar se estiver com um guia. Isto acontece sobretudo para proteger as gravuras de ser destruídas ou danificadas, mas devem também notar que muitas das gravuras são difíceis de ver e ainda mais de entender sem um guia. Existem rochas com diversas camadas de desenhos, por vezes vários animais, por vezes o mesmo animal desenhado de forma a transmitir a sensação de movimento. 

Dos cerca de 80 locais diferentes onde foram encontradas gravuras, apenas 3 áreas pode ser visitadas pelo público:

  • Canada do Inferno – muito perto de Vila Nova de Foz Côa
  • Ribeira de Piscos – em Muxagata
  • Penascosa – perto da aldeia de Castelo Melhor

Notem que o vale do Côa tornou-se um destino muito popular entre portugueses e estrangeiros. Os tours estão normalmente cheiros e os bilhetes esgotam rapidamente. Sugerimos que liguem ao Museu do Côa e marquem a vossa visita assim que decidam quando e o que querem visitar!

Como visitar as gravuras de Foz Coa
Mirarouro no Museu do Coa

O que esperar dos tours às gravuras de Foz Côa?

Durante o tour, serão levados a um dos 3 principais núcleos onde é explicada a sua relevância tanto em termos artísticos como arqueológica. Existe imensa informação no museu do Côa, mas ver os originais ao vivo e ter alguém a explicar as técnicas, a importância, as certezas e as dúvidas dos arqueólogos tem outro impacto.

Nós visitamos o vale do Côa duas vezes, tendo ido à Canada do Inferno e à Panascosa, e gostamos igualmente das visitas. Os grupos são sempre pequenos, normalmente 8 ou menos pessoas. É possível que se encontre outros grupos, mas os locais nunca ficam lotados.

As visitas guiadas custam 16 Euros por pessoa e decorrem diariamente durante a manhã ou tarde, dependendo do núcleo a visitar. A Canada do Inferno e a Ribeira de Piscos são durante a manhã, enquanto que a Panascosa durante a tarde. 

Gravuras na Canada do Inferno
Gravuras na Canada do Inferno, Foz Coa

Canada do Inferno

O tour da Canada do Inferno começa no Museu do Côa. Durante este tour, vai passar pela área onde a barragem da foz do Côa estava a ser construída, e pode-se ver que muito do trabalho já estava feito. A viagem até ao núcleo é mais longa mas também mais rápida pois é sempre em asfalto ou paralelos.

Depois de chegar ao parque de estacionamento, temos de caminhar cerca de 500 metros até às primeiras rochas, mas é um percurso bastante fácil e acessível a quase toda a gente. No entanto, notem que temos de subir e descer algumas escadas para ver as rochas. Nada de especialmente difícil. No total o tour demora cerca de 2 horas.

Visitar Foz Coa

Além da barragem, o maior destaque deste tour é a chamada rocha 1. A rocha que originou tudo isto, a primeira a ser descoberta e reconhecida por todo o seu valor.

Panascosa

O tour da Panascosa começa em Castelo Melhor, no centro de recepção do parque do Côa. Para chegar às rochas temos de fazer 6 km de todo terreno em estradas de terra batida até se chegar a uma praia na margem do rio Côa. O percurso é bem bonito, com muitas amendoeiras e oliveiras. 

Depois de chegar à praia, estamos praticamente no núcleo e não temos de caminhar mais que 100 metros até às primeiras rochas com gravuras. Este é o melhor percurso se não quiser caminhar, ou se tiver dificuldade de mobilidade. O tour demora cerca de 1h30 a 2 horas.

Nota: Se decidir fazer este tour aproveite a oportunidade para visitar o castelo de Castelo Melhor. É um dos mais bonitos castelos em ruínas que ja visitamos, e tem uma vista monumental.

Gravuras na Panascosa, Vale do Coa
Gravuras na Panascosa

Ribeira de Piscos

Tal como dissemos inicialmente ainda não fizemos esse tour, mas pela informação que recolhemos é o mais difícil dos 3 pois temos de caminhar cerca de 2 km. Começa e acaba no Museu do Côa e demora cerca de 2h30. 

Vale a pena visitar o Museu do Côa?

O Museu do Côa fiz localizado ligeiramente fora de Vila Nova de Foz Côa, Mais concretamente a cerca de 3 km. É suficientemente longe para não dar muito jeito caminhar até lá, mas se tiver tempo, é perfeitamente possível. O moderno e belo edifício do Museu foi construído no topo de um desfiladeiro junto à foz do rio Côa. 

A vista a partir do Museu é maravilhosa e valeria a pena lá ir apenas para a apreciar. No entanto, o museu é também interessante, é um dos maiores em Portugal e foi construído para se integrar no cenário envolvente. A partir do Museu é possível ver 2 patrimónios mundial em Portugal, o Alto douro Vinhateiro e o vale do Côa.

Assim, aconselhamos vivamente que visite o museu, mas notem que ir ao museu não substitui fazer o tour. É um complemento. Afinal de contas, o verdadeiro museu é ao ar livre, junto ao rio. Acreditamos que o melhor é visitar ambos, de forma a experienciar totalmente a região e a descobrir a riqueza dos vales do Côa e do Douro.

Um bilhete para o museu custa 6 Euros e deve reservar pelos menos 1 hora para o visitar.

Rocha no Museu do Coa

Onde ficar em Foz Côa?

É perfeitamente possível fazer uma escapadinha de um dia a Foz Côa a partir do porto, de carro. Mas é uma escapada longa! Se tiver tempo, sugerimos que fique um dia em Foz Côa (ou perto) e desfrute de toda a região, além da arte rupestre. O alto douro é deslumbrante, e o douro internacional não lhe fica atrás. Para nós é mesmo das regiões mais bonitas de Portugal, e é muito pouco conhecida. 

HI Vila Nova de Foz Côa

O Hi Foz Côa (basicamente a pousada da Juventude) é um hostel com muito boas condições. Fica bem perto da vila, mas não no centro. São cerca de 5 minutos a pé. Este hostel tem quartos privadas e dormitórios, pelo que é provavelmente a melhor opção para backpackers.

Hotel Vale do Coa

O Hotel Vale do Côa fica mesmo no centro de Foz Côa, mas é um pouco mais caro. Sugerimos este hotel a todos os que não gostam de ficar em hostels, e não se importam de pagar um pouco mais por isso. Os quartos são bons, mas nada de outro mundo.

Casa do Tablado – Foz Côa

A Casa do Tablado é a nossa sugestão para todos os que preferem ficar numa casa e não num hotel ou hostel. É óptimo para uma família ou um casal que quer um lugar mais privado. O rating extraordinário que tem no booking confirma a qualidade e conforto deste lugar.

Booking.com

Melhor altura para visitar Foz Côa

Foz Côa fica bem no interior de Portugal, numa região que é notoriamente quente e seca no Verão e fria e chuvosa no Inverno. Esta é também uma região que não recebe demasiado turistas pelo que nunca terá problemas com multidões. No entanto, se vai a Foz Côa tem de marcar com antecedência a visita guiada às gravuras. Não pode simplesmente aparecer e ir com o guia. Além disso, durante a época alta marque logo que possível pois os tours esgotam.

Assim, acreditamos que a melhor altura para ir a Foz Côa é durante a primavera e o início do Outono. O Inverno será com certeza a pior altura, pois é muito provável que chova e estará de certeza muito frio. Durante o Verão está muitas vezes demasiado quente para se realmente usufruir do tour, mas faz-se.

Como ir a Foz Coa

Foz Côa fica claramente fora do trilho turístico de Portugal, e por isso a maioria dos estrangeiros (e mesmo muitos locais) não vai lá. Ainda assim, existem algumas opções para lá chegar. É possível ir de carro, comboio ou de autocarro.

Melhor forma de ir a Foz Coa

De carro

Esta é obviamente a forma mais rápida e mais fácil de ir a Foz Côa. Existem boas estradas e autoestradas para e nesta região. Do porto a Foz Côa são cerca de 2 horas, e por isso é possível ir e voltar num só dia, mas como dissemos acima é uma viagem longa e durinha. No entanto, pode aproveitar para passar pelo vale do douro.

Se optar por ir de carro não podemos deixar de sugerir a oportunidade para fazer a N222, que vai de Gaia a Foz Côa. Já foi considerada uma das estradas mais bonitas do mundo, mas claro que é coisa para lhe durar muito mais do que as referidas 2 horas. 

Comboio para Foz Côa

O comboio é uma excelente hipótese para quem tem tempo ou não quer conduzir. Notem que o comboio vai apenas até ao Pocinho, pelo que precisa de apanhar um táxi para fazer os 8 km finais até Foz Côa. Além do mais, depois vai precisar de arranjar forma de ir ao Museu e a qualquer outro lugar que queira visitar.

A maior vantagem de ir de comboio é que este passa directamente pelo alto douro, sendo obviamente uma das mais bonitas viagens de comboio de Portugal. 

Autocarro até Foz Côa

O autocarro é outra forma de chegar a Foz Côa usando transportes públicos. Não será uma viagem tão bonita como a de comboio a partir do Porto, mas vai directamente até Foz Côa.

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Como ver as gravuras rupestres de Foz Côa
Como ver as gravuras rupestres de Foz Côa

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