A rota vicentina é um conjunto de trilhos no Sudeste Alentejano e Sotavento Algarvio. Este conjunto de percursos pedestres estão excelentemente sinalizados e dividem-se no trilho dos pescadores, no caminho histórico e em diversos trilhos circulares. Este conjunto de percursos tem mais de 750 km, sendo que o trilho dos pescadores corresponde a “apenas” 226,5 km divididos em 13 etapas, que vão desde S. Torpes a Lagos.
Neste artigo vamo-nos focar no trilho dos pescadores, e muito particularmente nas quatro etapas entre Porto Covo e Odeceixe, ou seja a costa do Sudeste Alentejano. Estas são as etapas mais populares e provavelmente as mais espectaculares daquele que é muitas vezes considerado o trilho de grande rota mais bonito em Portugal, e um dos mais bonitos do mundo.
Ao longo dos quase 80 km do trilho dos pescadores que aqui vamos detalhar, o percurso segue quase sempre junto ao mar, por praias, dunas e arribas. Apesar de algumas das praias, terem acesso de carro, a possibilidade de caminhar entre elas, explorando as arribas e toda a beleza natural do Parque natural do Sudeste Alentejano e e costa vicentina torna esta Grande Rota uma das actividades a não perder em Portugal.
De facto, na nossa opinião, só fazendo o trilho é que se consegue absorver realmente toda a beleza desta região costeira. Assim, vamos explorar tudo o que precisa de saber para fazer o trilho dos pescadores desde Porto Covo a Odeceixe. Aqui vai encontrar toda a informação sobre a logística necessária (onde comer, onde dormir, os transfers), os maiores pontos de interesse, as dificuldades, melhor época… enfim, tudo o que precisa, e mais um pouco.

Trilho dos pescadores – informação geral
- Nome: Trilho dos Pescadores
- Inicio– Porto Covo
- Fim – Odeceixe
- Distancia – Quase 80 km,
- Tempo necessário – 4 dias,
- Dificuldade – Média, devido distância e a areia
- Máx/min altitude: Quase sempre ao nível do mar
- Ganho de altitude: Mínimo
- Tipo – Linear, por etapas
- Sinalização (1-5) – 5
- Destaques: Diversas Praias, arribas, Milfontes, Almograve, Porto Covo, Zambujeira do Mar e Odeceixe;
- Ciclável: Não

Nossa experiência no trilho dos pescadores da Rota Vicentina
Esta secção da rota vicentina – trilho dos pescadores tornou-se muito rapidamente o nosso percurso pedestre favorito em Portugal. As arribas, as praias desertas, a vegetação e toda a paisagem que se pode observar tornam esta caminhada numa experiência inesquecível.
Tal como referimos em cima, este troço do trilho dos pescadores divide-se em 4 etapas num total de quase 80 km. O mais longo tem 22.5 km, e o menor tem 15.5 km. Apesar das distancias serem relativamente longas, não existem grandes inclinações e zonas técnicas. A maior dificuldade é mesmo a areia. Lembre-se que vai caminhar muitas vezes em praias, dunas e arribas com imensa areia, muitas vezes fina e solta.
Oficialmente estas são as etapas 2, 3, 4 e 5 do trilho dos pescadores:
- Porto Covo – Vila Nova de Milfontes (20 km)
- Vila Nova de Milfontes – Almograve (15.5 km)
- Almograve – Zambujeira do Mar (22km)
- Zambujeira do Mar – Odeceixe (18.5km)
Nota: caso queira poderá facilmente adicionar a etapa 1, de apenas 10 km entre São Torpes e Porto Covo, mas vamos deixar esta pequena etapa de fora do artigo pois ainda não a fizemos.
Uma das características que adoramos neste percurso é que cada dia se inicia e termina em vilas que têm todas as condições que precisa, mas durante o percurso e em poucos minutos de caminhada estamos longe de tudo. É como que o melhor dos dois mundos, temos conforto no final do dia, e natureza durante quase a totalidade da caminhada.

Porto Covo – Vila Nova de Milfontes
Esta primeira etapa tem 20 km, e é logo aquilo que se chama de um belo treino! É o segundo dia mais longo, não tem grandes desníveis mas na nossa opinião é também o mais duro. Porquê? Tem longos períodos em areia, que ao se tornam cada vez mais duros com o acumular dos km em areia.
Demoramos cerca 7,5 horas desde Porto Covo a Milfontes, que corresponderam a 5-6 horas de caminhada – paramos bastantes vezes para descansar, tirar fotos, ou simplesmente apreciar a paisagem.
Além de ser o mais duro, é também um dos mais bonitos, com imensos pontos de interesse. Destes destacamos a ilha do pessegueiro, a praia dos Aivados, e a fenomenal praia do Malhão. Além claro, de Porto Covo e Milfontes.
Notem que neste trilho não tem pontos de abastecimento. Além da praia da ilha do pessegueiro quase no inicio e Porto das Barcas quase no fim, não existem cafés/bares no percurso. Talvez no verão possam existir alguns vendedores ambulantes, mas não contem com isso.
Clique aqui para marcar o seu alojamento em Milfontes e aqui para marcar em Porto Covo

Veja aqui a etapa 2 em detalhe
Vila Nova de Milfontes – Almograve
O segundo dia deste trilho é possivelmente o mais fácil, sobretudo porque é o mais curto e pode ainda ser encurtado facilmente. Oficialmente tem 15.5 km, mas os primeiros 3 km são simplesmente para atravessar o rio Mira pela ponte e não têm qualquer interesse, comparado com as paisagens que vai obter no resto do percurso. Assim, pode apanhar um dos muitos barcos que fazem a travessia e poupar esses 3 km.
Demoramos cerca de 6h a fazer este dia (cerca de 4h30 de caminhada). Apesar de curto tem também um longo troço em areia, só para não perder a prática… Notem que tal como o dia anterior, não temos pontos de apoio, pelo que levem mantimentos para toda o percurso.
Apesar de mais curto, não faltam motivos para se deliciar com a paisagem neste dia. Além da vila de Milfontes, e a sempre agradável travessia do rio Mira, temos logo na margem sul a fabulosa praia das Furnas (uma das vencedoras da categoria de praias no concurso das 7 maravilhas). Mas a nossa praia favorita acabou de ser a praia do Brejo Largo, pois após alguns km a caminhar em areia fina e solta tornou-se um autêntico paraíso.
Clique aqui para marcar o seu alojamento no Almograve

Clique aqui para ver etapa 3 em detalhe
Almograve – Zambujeira do Mar
Este é o dia mais longo com 22km, mas não se assuste pois tem menos areia que os outros, tornando-o bem mais fácil do que pode parecer à partida. Demoramos cerca de 7h a fazer todo o percurso, mas paramos bastante tempo para lanchar e depois para almoçar.
Ao contrário dos dias anteriores, neste terceiro dia temos duas excelentes oportunidades para reabastecer. A primeira em Cavaleiro, onde encontramos um pequeno snack-bar para tomar um segundo pequeno-almoço, e a outra em Porto das barcas onde temos um belo restaurante, o Sacas. Se chegar mais tarde a Cavaleiro, tem lá também um restaurante.
Mas calma, este dia não vale só pela comida, tem também muito para ver! Podemos dividir o percurso em duas partes, primeiro até ao Cabo Sardão, e depois o restante até à Zambujeira. Na nossa opinião, o percurso entre Almograve e Cabo Sardão é fabuloso, com vistas incríveis, terminando no imponente Cabo Sardão.
A partir daí, temos uma parte do percurso muito fácil (plano e em terra batido) mas no geral bem menos interessantes. Não é feio, longe disso, mas a paisagem é mais monótona. A excepção é em Porto das Barcas e claro na Zambujeira. Os últimos km até à Zambujeira são feitos junto à estrada nacional, infelizmente.
Clique aqui para marcar o seu alojamento na Zambujeira do Mar

Zambujeira do Mar – Odeceixe
Chegamos ao último dia, e para terminar em grande temos mais um dia com paisagens fabulosas e bem durinho. Tem algumas zonas de areia (não tanto como o 1º dia mas quase), mas tem também bem mais subidas e descidas e até alguns pontos ligeiramente técnicos. Não se assuste, faz-se bem, mas são as partes mais técnicas e inclinadas destes 4 dias do trilho dos pescadores.
No total são 18.5 km que fizemos em quase 8 horas, das quais cerca de 6 horas em caminhada. Se só puder fazer um dos dias, este seria provavelmente o que aconselharíamos, pois tem realmente muitos pontos de interesse, além da beleza do cenário geral e das arribas.
Entre os principais pontos de interesse temos de destacar a praia da Amália, a praia do Carvalhal, e a praia dos Alteirinhos. Todas elas são fabulosas, mas a praia da Amália parece saída de um conto de fadas e é talvez o melhor segredo do Sudeste alentejano. Além das praias, temos ainda uma espécie de safari privado junto à Praia do Carvalhal, onde se podem ver avestruzes, veados, búfalos e zebras. É difícil de acreditar mas é verdade.
Por último, e mesmo antes de chegar a Odeceixe, temos a Ponta em Branca, um miradouro estupendo com vistas para a incrível praia de Odeceixe. É sem dúvida a forma ideal para terminar este trilho (apesar de ainda faltarem quase 5km em estrada até chegar a Odeceixe).
Clique aqui para marcar o seu alojamento em Odeceixe

Melhor altura do ano para fazer o trilho
Na nossa opinião a melhor altura do ano para fazer o trilho dos pescadores é a Primavera, nomeadamente em Abril / Maio. Alternativamente o inicio de Outono será também excelente.
Entre a Primavera e o Outono, a nossa preferência vai para a Primavera sobretudo porque é quando a vegetação está mais bonita, com flores selvagens por todo o lado. Em ambos os períodos os dias serão longos, e com temperaturas mais agradáveis para longa caminhadas.
No Verão temos o problema do calor, e é realmente um problema. Notem que 90% do trilho é feito ao sol, sem sombras no percurso nem grandes hipóteses de fugir do sol pois a vegetação é sobretudo rasteira. Por outro lado, a água do mar estará também mais quente.
Durante o Inverno, o frio, a chuva e o vento podem tornar o trilho bem duro e menos agradável. No entanto, nunca o fizemos nesta altura.

Quem pode fazer o trilho?
Este é um trilho para pessoas com alguma resistência física e sem qualquer problema de mobilidade. A idade não deverá ser um factor, mas sim a capacidade física. Desaconselhamos que seja feito com crianças pequenas, pois será demasiado duro, mas adolescentes e talvez pré-adolescentes atléticos consigam fazer.
Notar que uma grande parte do percurso é jeito em arribas e desfiladeiros pelo que pessoas com medo de alturas ou vertigens poderão ter problemas em certas partes. Neste sentido, a etapa Zambujeira – Odeceixe será a pior.

É possível fazer o trilho dos pescadores de bicicleta?
Não! Impossível, não se metam nisso. Além dos km consecutivos em areia fina e solta que até para caminhar custa, temos as zonas em desfiladeiros e arribas onde uma distracção significaria uma queda de muitos metros e ainda as zonas mais técnicas onde é simplesmente impossível andar de bicicleta.
Assim, tentar fazer o trilho dos pescadores de bicicleta significaria andar com a bicla às costas durante uma boa parte do percurso, ou simplesmente passar o tempo todo a fazer detours para se conseguir passar e perder grande parte das melhores vistas e pontos de interesse.
Se tudo isto não for suficiente para o convencer, pense que as marcas das bicicletas vão ajudar a estragar uma reserva natural onde o equilíbrio ecológico é já bastante complicado.

Pode-se acampar enquanto se fazer o trilho dos pescadores?
Acampamento selvagem é estritamente proibido. É possível acampar nos parques de campismo que existem em alguns localidades. Sinceramente não conseguimos imaginar nenhuma vantagem em acampar, pois terá de levar as tendas às costas durante todo o percurso, o que não nos parece agradável. Por outro lado, é fácil encontrar alojamentos baratos e confortáveis em cada uma das localidades.
Sinalização do trilho dos pescadores
O trilho dos pescadores está perfeitamente sinalizado em ambas as direcções. Existem marcações regulares e em todos os pontos importantes. Ao longo de 80km penso que só duas vezes saímos do trilho, e provavelmente foi distracção nossa.
Levar um GPS é sempre uma segurança, mas neste caso até nem é muito necessário. As marcações estão realmente muito bem feitas e acabamos por praticamente não o usar. Além do mais, é só seguir a regra simples, em caso de duvida é pelo caminho à beira-mar… alguns metros depois vai logo aparecer o sinal a confirmar.
Por último, gostamos que o trilho dos pescadores tenha uma marcação com cores completamente diferentes, ajudando a diferenciar o trilho dos pescadores de todos os outros. As barras a azul e verde funcionam quase como uma imagem de marca, mostrando que este é um trilho diferente… especial.

O que levar para o trilho dos pescadores?
Dado que este é um percurso de 4 dias, temos de ter especial atenção ao que levar pois quanto menos peso melhor. A regra normalmente é nunca fazer caminhados com mais de 10% do nosso peso. Assim, sugerimos que leve:
- Muita água (no mínimo 2l por pessoa); Sugerimos que leve sempre água para todo o dia.
- Snacks para se alimentar durante o dia. Especialmente importante nos dois dias em que não terá oportunidade de comprar nada durante a caminhada.
- Calçado de caminhada confortável – Faça a caminhada com calçado de caminhar. Nós usamos sapatilhas de corrida, mas há quem sugira usar calçado de caminhada. Sapatilhas têm a desvantagem de precisar de tirar a areia regularmente, mas a vantagem de ser bem mais frescas;
- Chinelos para usar no final do dia – Não use os chinelos para fazer as caminhadas, é muito tempo e vai tornar-se desconfortável.
- Roupa leve e confortável; Nós levamos uma muda de roupa por dia, e levamos algumas peças de roupa antiga que deitamos fora após usar. Menos peso para os dias seguintes;
- Não esquecer de levar pelo menos uma camisola mais quente ou hoodie pois de noite pode fazer bem mais frio do que espera, nomeadamente fora do Verão.
- Roupa de banho, óculos de sol, chapéu e protector solar no verão;
- Câmara e telemóvel, pois existem muitas oportunidades para tirar belas fotos. Telemóvel também para ser usado como GPS. Não se esqueça dos carregadores;
- Mochila para levar tudo isto;
Como sempre, por favor não faça lixo. Traga tudo o que levar consigo.
Existem empresas de transferes que levam as malas para o destino. Assim se quiser levar ainda menos peso, esta pode ser uma boa hipótese. Veja aqui.

Como chegar ao trilho dos Pescadores?
O trilho pode ser feito e está marcado em ambas as direcções. Nós optamos por fazer de Norte para Sul mas na prática é exactamente o mesmo fazer de Sul para Norte. Para chegar a Porto Covo ou a Odeceixe de carro é bastante fácil, e é também simples arranjar um estacionamento por alguns dias. O ideal é perguntar ao alojamento onde poderão deixar o carro, e com certeza lhe dirão alguns lugares.
Tanto Odeceixe como Porto Covo têm transportes públicos para Lisboa através da rede expresso, pelo que caso não queira levar carro tem sempre essa possibilidade. Além do mais, existe também um rede expresso entre Porto Covo e Odeceixe e vice-versa. Assim, quando terminar o trilho, pode simplesmente apanhar o autocarro para o inicio. Se preferir, existem também bastantes empresas de transferes e táxis que prestam este serviço. Espere pagar cerca de 60 Euros, pelo percurso Odeceixe – Porto Covo.

Considerações finais sobre o trilho dos pescadores
Tal como referimos diversas vezes, este é um trilho fabuloso, um dos melhores que já fizemos, não só em Portugal como no mundo. Se não tiver tempo ou disponibilidade para fazer os 4 dias, pode sempre fazer apenas 1, 2 ou 3. Ou 10, ou 14… 🙂
Por outro lado, não se esqueça que não tem de fazer a caminhada de seguida. Pode sempre ficar um dias em Milfontes ou na Zambujeira. São vilas bonitas, bastante turísticas onde vai encontrar bastante com que se entreter, e bons restaurantes. Nós optamos por ficar um dia extra em Milfontes e foi uma excelente decisão. Deu para recarregar baterias, relaxar e usufruir de uma das mais bonitas vilas costeira de Portugal.
Finalmente, se quiser ainda mais informação sobre a rota vicentina, e o trilho dos pescadores, o site oficial é um excelente recurso, com imensa informação útil.
Pin
