No Natal português quem manda é o bacalhau. Apesar existirem outros pratos de natal tradicionais, atualmente o prato que a maioria das famílias Portuguesas come na consoada de Natal, é o bacalhau.
O bacalhau faz parte da identidade e da historia nacional. E no Natal essa presença é ainda mais forte, devido à tradição eclesiástica de jejum na consoada. Não se podendo comer carne, o fiel bacalhau, fez tradição nas mesas de Natal.
No norte a consoada era comida antes da missa da meia noite, pelo que ainda não se podia comer carne, levando aos hábitos de comer bacalhau ou polvo. Já a sul de Portugal consoava-se depois da missa da meia noite, e por isso já fora do período de jejum, comia-se porco ou frango.
Já no dia de Natal os pratos tradicionais mais frequentes são o cabrito assado, o peru recheado e o porco assado ou recheado. Independentemente do prato, o dia é repleto de comida deliciosa. E, claro, para acabar em grande os mais apetitosos doces tradicionais de Natal.
Fizemos um levantamento de Norte a Sul dos Pratos Tradicionais de Natal em Portugal. No entanto, atualmente alguns destes pratos caíram em desuso.
Por curiosidade alguns sítios tinham a superstição de não levantar a mesa da consoada, de forma a que os mortos dos familiares venham fazer a sua festa enquanto estiverem todos a dormir.
Pratos tradicionais de Natal em Portugal – Consoada
Bacalhau com todos
Sem bacalhau não há Natal, é um dos símbolos do Natal. É comido em todo o país, acompanhado por batatas cozidas, ovo cozido, couve Portuguesa ou Galega e por vezes cenouras e grão. Daí o “Bacalhau com todos”. No final rega-se com um bom azeite que é aquecido com cebola e alho.
Dita a tradição que as batatas devem ser grandes para não esfarelarem, o Bacalhau quer-se grosso e a couve galega ou Portuguesa querem-se tronchudas – com troços grandes. O Bacalhau seco tem que ser demolhado com antecedência várias vezes – especialmente se for grosso.
A origem da tradição do Bacalhau na ceia de Natal remonta o século XVI, nessa altura o jejum imposto pela Igreja Católica era até do dia 24 de Dezembro. Não se podia comer carne, e visto o Bacalhau ser a opção mais barata passou a ser o alimento de eleição do povo no Natal.
Além disso, em Dezembro era difícil os pescadores irem pescar peixe fresco. Comia-se bacalhau à noite e depois da missa da meia noite, podia-se comer os doces e a carne.
Polvo cozido
E se o Bacalhau é o rei do Natal, o polvo no Minho e Trás os Montes é o Imperador. A tradição de comer polvo no Natal era tão forte que havia contrabando da Galiza – as pessoas arranjavam formas bem imaginativas para passar o polvo pela fronteira da Espanha.
A tradição de comer polvo do Natal é muito influenciada pela Galiza, que era o maior centro de pesca de polvo. E como o polvo era seco durava o todo o ano, sendo fundamental na região da Galiza e norte de Portugal, especialmente junto à fronteira.
Durante a ditadura de Salazar, a importação de polvo foi proibida dando preferência ao bacalhau. No entanto, a vontade de comer polvo era tanta que havia contrabando. Apesar do forte controlo dos guardas fiscais, arranjava-se sempre maneira de fazer chegar o polvo a Portugal. Trazia-se escondido em varias camadas de roupa, enterrava-se em buracos, entre outras formas criativas de enganar a guarda fronteiriça.
No Natal pendurava-se o polvo atrás da porta e dois dias antes da consoada as mulheres lavavam-no na fonte. Também batiam o polvo numa pedra pelos menos 50 vezes até ficar mole. Coziam o Polvo até estar terno acompanhado com batatas e cebola. Era comido antes da Missa do Galo.
Capão à Freamunde
Em Freamunde, cidade do concelho de Paços de Ferreira, é tradicional (em algumas famílias) comer-se o capão na consoada ou no dia de Natal. A tradição começa a 13 de Dezembro, na altura da feira dos capões e da festa de Santa Luzia.
Esta feira que remonta ao século XV, os capões são expostos e vendidos, além de outros produtos. No passado, tinha se como hábito oferecer um capão como prenda. Em simultâneo à feira realiza-se a feira gastronómica, que é uma boa altura para experimentar Capão confeccionado nos restaurantes locais.
O capão é um galo que foi castrado/neutralizado com 3 meses – corta-se os testículos do galo. Aos 9 meses quando atinge entre os 3 e 7 kg, está pronto para ser cozinhado. Embriaga-se o capão com um cálice de vinho do Porto e 30 minutos depois mata-se o frango. A carne do capão é mais terna e saborosa que o frango…”normal”.
Para confeccionar esta iguaria é necessário marinar o capão 24 a 48 horas com vinha d’alho, depois é recheado com miúdos, cebola, alhos, presunto, salpicão e chouriço e muito mais. É assado no forno durante cerca de 3 horas, acompanhado com batatas assadas e grelos.
Veja aqui para saber mais sobre os espetacular capão de Freamunde.
Canja de galinha
Na ilha da Madeira a consoada costuma ser mais simples que no resto do País. Na noite de Natal depois da missa do Galo, costumava-se comer uma canja de galinha acompanhada de umas sandes de bolo do caco com galinha ou carne de porco em vinha d’alho.
Esta canja de Galinha é feita com arroz, galinha, cebola, canela ou cravinho, e poderá levar nabo e cenoura. Com os resto da galinha faz-se as sandes de bolo de caco.
Já nos Açores o tradicional é o consommé de galinha que é um caldo de frango com legumes.
Missadura
No Alentejo come-se a missadura que significa consoada depois da Missa do Galo. A missadura inclui toda a variedade de carne de Porco.
Antes do Natal faz-se a matança do porco, preparando a carne para a noite de Natal, os lombos, febras, costelas e linguiça. A carne depois de ser marinada era comida na missadura. Grelhava-se ou fritava-se vários tipos de carne e acompanhava-se com pão.
Antes da Missadura é habitual as famílias no Alentejo comerem uma refeição ligeira, como sopa de cação, pescada frita, bacalhau ou outro peixe, acompanhada por batatas, couve-flor ou grelos.
Pratos tradicionais de Natal – Almoço dia 25 de Dezembro
Roupa velha
A roupa velha ou farrapo velho é um prato típico do Minho, comido no dia de Natal. É um prato feito com o bacalhau e a batata que sobrou da consoada. O bacalhau é desfiado, retira-se as peles e as espinhas, as batatas e as couves são cortadas em pequenas porções assim como os legumes. Junta-se estes ingredientes a um refogado de cebola e alho e frita-se tudo. Rega-se com muito azeite e acrescenta-se ovo cozido.
Roupa velha é normalmente comida antes do prato de carne, cabrito ou peru. O nome deste prato provem da sua aparência, os alimentos envolvem-se uns aos outros e há um contraste de cores e texturas.
O prato pode ter uma aparência estranha, mas é muito bom – na nossa opinião melhor que o Bacalhau com todos da consoada. Acima de tudo é um prato nostálgico, faz sempre lembrar o Natal e casa, pelo menos no norte de Portugal.
Cabrito assado
O Cabrito Assado é um prato típico do Natal, especialmente no Norte e nas Beiras, particularmente na Beira Interior. É um prato delicioso comido todo ano mas é especialmente bom no Natal.
É necessário um bom cabrito com pelo menos 3 kg, sem fressura nem bedum senão a carne fica com um sabor desagradável. A carne fica a marinar em vinha d’alho com alho vinho branco, massa de pimentão, azeite, louro, sal, pimenta e alecrim 24 a 48 horas antes de assar.
Por fim é assada no forno durante 1h30 acompanhada por batatas novas com casca também assadas com o cabrito.
Peru Assado e Recheado
O Peru assado apesar de menos frequente também se encontra presente nas mesas de Natal. Uma tradição importada da América do Norte, onde é abundantemente comida especialmente no dia de Ação de Graças. No passado, o peru assado estava mais associado à nobreza, enquanto que o Bacalhau foi uma tradição de Natal iniciada com os pobres.
Como manda a tradição o Peru só pode ser consumido depois da missa de Galo, por isso é um prato frequentemente comido no dia de Natal, ficando o bacalhau para a seia.
Após de ser morto com um cálice de vinho de Porto, o peru é recheado e assado. Dependendo da região do pais é recheado com diferentes ingredientes.
Na região do Douro e Minho frequentemente é recheado com um creme de castanhas. Na região do Alentejo é recheado com os famosos enchidos e carnes Alentejana. Também pode ser simplesmente recheada com pão e miúdos.
Carne de porco em vinha d’alho
Na Madeira entre o dia 8 de Dezembro (dia da Imaculada Conceição) e o início das Missas do Parto (9 missas celebradas na madrugada que começam no dia 16 de Dezembro), começam as tradicionais matanças do porco. Antigamente, a família reunia-se, o porco era morto e toda a carne é aproveitada. A carne era já preparada a pensar no Natal.
Hoje em dia já não se realizam as matanças mas muitas famílias continuam a comer carne em vinha d’alho no dia de Natal. A carne é deixada a marinar em vinho branco, vinagre, alho, louro, sal e pimenta pelo menos 3 dias antes do Natal. Depois é cozinhada nesta marinada, e em seguida é frita em banha do porco. É acompanhado por pão ensopado no molho da carne e frito também em banha. Este prato típico Madeirense não pode faltar nas mesas de Natal.
Diz-se que esta tradição tem origem no povo do Minho que migrou para a Madeira e a receita baseia-se nos rojões minhotos com um toque madeirense.
Galinha guisada
Muitas famílias no Algarve costumavam comer Galinha guisada no Natal. Sacrificavam-se os animais mais velhos da capoeira que durante o ano mantinham-se por serem produtivos e darem ovos.
Como a carne é mais dura, era necessário guisar o frango ou o galo durante horas. Eram feitos numa panela de ferro colocados em fogo de lenha durante horas, até que a carne se separasse dos ossos e no final acrescentava-se a batata.
Algumas famílias acrescentavam o sangue da galinha e faziam um arroz de cabidela, que também é tradicional faz no Natal na região do Algarve.
Lombo de porco assado
O Lombo de Porco assado é um prato típico de Natal muito presente nas famílias Portuguesas. Como toda a carne, para ficar mais saborosa é necessário temperar com antecedência. Depois vai ao forno acompanhado com batatas, cenoura e cebola, e claro, não pode faltar o arroz branco. No Alentejo o lombo de porco é assado em massa de pimentão.
Outra forma de o confeccionar é recheado. Uma das formas mais tradicionais de rechear o lombo de Porco é com farinheira e legumes. Um prato simples mas delicioso.
As tradições ao longo do tempo mudam, são ditadas pelos ingredientes disponíveis no momento e pela tradição da sua família. Afinal, o Natal é a família, é estarmos todos juntarem à volta de uma mesa a saborear boa comida e gozar a companhia uns dos outros.
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